terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Os defeitos de Clarice



Estou deitada ouvindo "Andrea Doria" e tudo o mais de deprê que pode haver na minha playlist e comecei a pensar nesse lance de defeitos...
Como todos sabem, os defeitos só nos servem para uma coisa: mostrar a nossa incapacidade de aceitação. Eles existem! Todos temos! Você pode se achar uma pessoa politicamente correta, alguém que se importa com os outros e blábláblá! mas em algum lugar aí dentro você não presta.
Denotativamente falando, defeito é deformidade; imperfeição física ou moral; vício. E então? Dá pra aceitar que todos nós, na hora de nossa fabricação, acabamos por ficar com aquela tal deformidade que nos acompanhará pelo resto de nossas vidas? Algum conservador estará dizendo que não é bem assim... "nós temos o domínio sobre nossas escolhas e o que fazemos de errado pode ser evitado..." blábláblá again! 
Sem querer entrar no mérito de que o conceito de autonomia humana é absolutamente equivocado, as imperfeições devem ter um lado bom. O que seria da vida sem um lado conflituoso? Clarice Lispector conhecia bem a questionabilidade dos defeitos. Certa vez ela disse que
 "Até cortar os nossos defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro"
O que seria dos romances de Clarice se não fossem os dilemas humanos, certo? Li em algum lugar que a escritora tinha um defeito de pronúncia em algumas palavras e que por isso resolveu fazer uma cirurgia de correção; em apenas alguns dias já conseguia falar normalmente. Algum tempo depois ela entra no consultório dizendo "Estou falando direito, mas essa não é a Clarice. Preciso falar errado como antes." Como eu disse, li isso em algum lugar, portanto, não posso atestar essa história como verdadeira, mas posso dizer que é bem possível ter acontecido.
Enfim, acho que o segredo está em entender as nossas deformidades, tentar contorná-las de modo a não ofender alguém, pois reconhecer que todos somos defeituosos não serve como desculpa pra sair por aí desferindo golpes contra o mundo. É uma questão de aceitação. É preciso aceitar quem somos; aceitar quem os outros são. Ser diferente é normal, alguém já disse. 
Ao contrário do que se poderia desejar, essa descoberta não nos faz mais capazes de conviver tranquilamente em sociedade - mesmo por que tem alguns que merecem uns tiros - mas nos permite entender... sentir de maneira diferente. Os homens sempre errarão, pois a humanidade está fadada a isso.   Então o que faremos? mudaremos para o coitado de Plutão, aquele que os infelizes dos homens foram dar pitaco lá no espaço e decidiram que o cara não tem capacidade pra ser um planeta? (não falei que alguns merecem uns tiros?!) Acho que isso não serve como solução... talvez seja melhor respirar fundo, contar até 1.000.000.000.000 (nem sei falar isso! rs) e aceitar todos da maneira que somos, pois, afinal, o  mundo provavelmente não teria a menor graça se não fossem as Clarices.

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